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investigandoonovoimperialismo

É a guerra total contra o planeta. Reina o caos (o capitalismo)!

16.01.08

“A tendência dominante que molda a actual situação … é o advento do ‘neoliberalismo’ – uma concertada ofensiva capitalista que pretende destruir as vitórias obtidas pelos trabalhadores durante o último século e aprofundar a subjugação dos países do Terceiro Mundo. — ‘Cuban Communist Makes the Case for International Revolution

Tenho de admitir o sentimento de estar totalmente arrasado pelo estado do nosso planeta, apesar de eu saber que o caos que ameaça afogar-nos a todos é o resultado directo de um sistema económico – o capitalismo – sendo nada mais do que um vício anárquico pela acumulação de capital, transformado agora numa balbúrdia (os lucros que estão a ser obtidos são obscenos e o sofrimento das vítimas, que se contam aos milhões, é indescritível). Isto desde os anos 1970 e o advento do chamado neoliberalismo, tem sido um desenfreado vale-tudo contra as pessoas e o planeta.

E se estão com a impressão de que aqueles que dizem ter o controlo não fazem a mínima ideia e são incapazes de fazer o que quer que seja sobre isto, então estão certos. À medida que saltam de crise (auto-induzida) em crise, invocando como causa todo o tipo de ‘forças do mal’, eles cavam um buraco ainda mais profundo para todos nós. Eles podem dominar as nossas vidas com base na força e no controlo exercido pelas classes políticas dominantes, mas também eles são abalados por forças que apenas palidamente entendem (se é que).

De facto, pode-se dizer que neste ponto da nossa evolução social, as elites dominantes são as mais burras, mais estúpidas, e com menos visão, que já tivemos. Para nos enganarem eles têm primeiro de se enganarem a eles próprios e infelizmente há milhões de ‘gestores’ com grande vontade de fazer o engano por eles.

Mas a realidade é que tem sido assim durante séculos, literalmente, até chegarmos ao século XX, onde pela primeira vez na nossa história nós vimos uma oportunidade de avançarmos para uma nova era, na qual em vez de estarmos à mercê de forças sobre as quais não tínhamos nenhum controlo, era possível enveredar por uma sociedade que se preocupava mais com o bem comum do que com a ganância de uma minoria. O que mudou foi que a crise do capital é agora severa e com tantas ramificações que só um auto-enganado consegue evitar a verdade.

Alguns entendem que o período para o qual estes ganguesteres idiotas nos conduziram é comparável aos anos 1930 – crise económica, o crescimento do fascismo e a guerra mundial – mas eu entendo que hoje a situação é bem pior, pois pelo menos nessa altura havia uma verdadeira oposição de esquerda e algum sentimento de que o futuro podia ser nosso (se tivéssemos jogado as cartas certas, o que obviamente não fizemos, mas é assim que se espera que se aprenda com os erros e crimes do passado).

E para acrescentar ao nosso infortúnio, apercebemo-nos finalmente que dois séculos de capitalismo industrial ameaçam todo o planeta. Incrivelmente, foram precisos quatro mil milhões de anos para a Natureza criar um ambiente homeostático (em equilíbrio) onde todo o tipo de vida possa coexistir e num piscar de olhos vem tudo abaixo.

Por esta altura, eu suponho que possa ser perdoado por atirar a toalha ao chão, depois de três gerações da minha família (bem como milhões de outros progressistas do século passado) terem lutado para construir um mundo melhor, e agora ver todo o projecto cair por terra.

Mas antes de metaforicamente eu ir para as montanhas, vale a pena sublinhar que mesmo agora não está tudo perdido e, por coincidência, surge um livro do comunista cubano Roberto Regalado ‘Latin America at the Crossroads’ [o título original em espanhol é ‘América Latina entre Siglos’, ou seja, a América Latina entre Séculos/Épocas, ou como indica a tradução para inglês, ‘América Latina na Encruzilhada’.], que sucintamente explica os termos

Capitalismo,

“Depois de se ter apostado tudo no estado de previdência”, … “a falência dessa construção ideológica coloca hoje [a social democracia] no ridículo público”. Se não se considerar uma perspectiva de suplantar o capitalismo, o único caminho é a rendição total.

Como resultado, da grande experiência reformista nos países imperialistas é que “não foi a social democracia que reformou a capitalismo, mas sim o capitalismo que reformou a social democracia”.

Aquilo a que agora chamamos neoliberalismo. Aqueles de nós que vivem nos chamados países avançados estão seguramente conscientes disto, pois no fundo nós vimos o desmantelamento sistemático, isto é, a privatização do sector público, da saúde, educação, habitação, transportes e comunicações, o sistema penal, a segurança social, etc., tudo em nome do ‘mercado’, essa terra da fantasia que apenas existe nos gabinetes editoriais da BBC e dos meios de comunicação corporativos e, claro, os leais subordinados, que venderam as suas almas ao sistema e que o fazem (ou tentam fazer) funcionar.

E claro que os pobres do planeta viram os seus países arrasados pela base, foram chacinados aos milhões, retirados de suas casas e postos à fome, tudo em nome da ‘defesa do mercado livre’. Os acontecimentos no Paquistão e agora no Quénia são o resultado directo dos últimos trinta anos de neoliberalismo, bem como os desastres que são o Iraque, Afeganistão, Jugoslávia, Palestina, Líbano e Haiti. E agora com o petróleo a 100 dólares, os países mais pobres ficarão ainda mais empobrecidos do que já estão.

E a não ser que tomemos agora medidas drásticas, nós vamos ver muitos mais paquistaneses e quenianos a borrarem a pintura, à medida que os cartéis do petróleo e os bandidos do Bush aumentam as contradições que têm impacto primeiramente nos pobres.

A subida dos preços do petróleo engolindo os países sub-desenvolvidos. Autor: Manny Francisco, Manila, Filipinas

A subida dos preços do petróleo engolindo os países sub-desenvolvidos.

Autor: Manny Francisco, Manila, Filipinas

Previsivelmente, os grandes meios de comunicação enchem as parangonas com ‘conflitos tribais’, ‘limpeza étnica’, ‘estados falhados’ e coisas assim, como sempre fizeram, mas o que se passa no Quénia, tal como no Paquistão, é o resultado do domínio colonial, afinal quem é que apoiou Daniel Arap Moi, do Quénia, durante décadas? O Ocidente, especialmente o Reino Unido e os Estados Unidos da América.

Entretanto, aqui na barriga do monstro, podemos observar os efeitos do capitalismo tentando ‘reformar’ a social democracia.

De forma irónica, as nossas elites dominantes, na sua tentativa de construir um estado securitário corporativo apoiado em bases de dados, mostraram não apenas as suas verdadeiras intenções e, agradecemos, a sua incompetência total (não que isso os torne menos perigosos, mas pelo menos expõe o grupo de bandidos incompetentes que eles são). Dão-nos saudades dos ganguesteres doutrora, como Churchill, pelo menos eles tinham um plano e uma burocracia funcionante e algum sentido do seu lugar no esquema das coisas.

E não é difícil entrar nas mentes destes ‘génios’ corporativos (já lá estive). Obcecados com a alegada omnipotência da tecnologia e com a tentação do dinheiro fácil (o nosso), eles instalam-se em luxuosos gabinetes, admirando apresentações de Powerpoint, gráficos, e coisas do género, fazendo parecer que tudo é como um passeio no jardim. E se fizerem asneira (o que acontece a toda a hora), eles pegam nos seus bónus e simplesmente lavam daí as suas mãos, deixando que um outro grupo de aldrabões venha tentar compor as coisas (e ganhar mais uns milhões). E estamos a falar de biliões de libras/dólares/euros de dinheiro público deitado pela sanita abaixo. As nossas classes dominantes são um verdadeiro desastre de proporções globais.

Mas estes burlões tecnológicos são mal educados (no sentido tradicional do termo), tal como a maioria das pessoas para quem eles trabalham. Somos governados por um bando de bárbaros sem educação, que, se viermos a ter algum tipo de futuro que valha a pena, têm de ser varridos do gabinete antes que seja tarde demais.

O apelo de Regalado a uma revolução mundial parece impraticável mas que escolha temos nós, dadas as circunstâncias? Regalado advoga

 “Um sistema politico baseado nos mecanismo de representação e participação populares, capaz de estabelecer um consenso que garanta a unidade de pensamento e de acção nos pontos-chave da construção socialista e o reforço mutuo desta unidade através do fluxo livre e construtivo de ideias e propostas que reflictam os diversos interesses dos sectores da sociedade, os quais beneficiam deste esforço a ser feito.

E isto, especifica Regalado, requer nada mais do que ‘a tomada do poder político’ em condições onde ‘aqueles que detenham o poder no mundo se agarrem a ele até ao final’."

E esta é a parte que assusta, que aqueles que têm o poder possam ver o planeta destruído em vez de largarem o seu poder e privilégio.

 Nota

Todas as citações são da excelente revisão de John Riddell do livro “Latin America at the Crossroads’ de Roberto Regalado. Tradução de Peter Gellert. Ocean Press www.oceanbooks.com.au 2007, US$17.95; America latina entre siglos. Ocean Press, 2007, US$17.95. John Riddell é co-editor da Socialist Voice www.socialistvoice.ca

 


Texto de William Bowles publicado em Creative-I a 7 de Janeiro de 2008. Traduzido por Alexandre Leite para a Tlaxcala.

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