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investigandoonovoimperialismo

Derrota da luta anti-terrorismo

08.12.08

Os massacres de Bombaim como derrota da luta anti-terrorismo

 

Na altura em escrevo estas notas ainda está longe de ser claro o que realmente aconteceu em Bombaim. As questões que coloco a mim próprio são as mesmas que a maioria das pessoas questionam também: Quem eram os atacantes? Quem esteve por trás deles e o que é que tentaram atingir? Apesar de tudo, uma coisa é evidente. A “Guerra ao Terrorismo” é um desastre total. Os chamados 'terroristas', quem quer que eles sejam, ganharam. A América e os seus aliados foram derrotados.

Mas as coisas não ficam por aqui, em toda esta guerra a América perdeu a sua primazia como superpotência. Está agora arruinada financeiramente. A sua liderança é vista pela maioria das pessoas em todo o mundo como um núcleo duro de malvadez. Não é preciso ser um génio para concluir que esta enorme derrota é o resultado de um cadeia de acontecimentos que começaram com um ataque orquestrado que aconteceu em Setembro de 2001. Para os que já não se lembram, os 18 terroristas que devastaram o mundo no 11 de Setembro não usaram nenhuma bomba nuclear, não estavam equipados com nenhum armamento sofisticado. Tudo o que eles tinham eram facas. Pode parecer bizarro, mas tudo o que foi necessário para derrubar o império americano foi um dúzia e meia de pessoas altamente motivadas armadas com facas.

Infelizmente, a América e a Grã-Bretanha, na sua queda, conseguiram ver-se envolvidas nalguns crimes de guerra de magnitude colossal. Dois milhões de iraquianos e afegãos estão mortos. Muitos mais milhões estão gravemente feridos, milhões de outros estão refugiados. Cada uma destas vítimas é um resultado directo de um guerra ilegal levada a cabo pelas democracias anglo-americanas.

Apesar da carnificina provocada por estas guerras coloniais anglo-americanas, elas estão longe de terem um fim. Durante semanas lemos sobre aviões americanos a largarem bombas em aldeias paquistanesas. Soubemos que os chamados aliados tentam alvejar “alegados suspeitos terroristas” no Paquistão rural. Evidentemente que os nossos líderes democraticamente eleitos vêm os inocentes civis muçulmanos como alvos fáceis descartáveis. Logo, não nos devia surpreender que algumas pessoas lá pelo Oriente nos vejam, igualmente, sujeitos ao terrorismo. Eles vêm-nos como potenciais alvos fáceis. No entanto, ao passo que os crimes britânicos e americanos são cometidos em nosso nome, em nome da democracia, por líderes que nós próprios colocamos no poder, os crimes que foram cometidos ontem em Bombaim foram cometidos por um grupo desconhecido e não eleito. Os crimes de Bombaim foram cometidos somente em nome dos que os cometeram. Os crimes anglo-americanos no Iraque, Afeganistão, Paquistão e Síria são cometidos por governos eleitos e em nome do povo britânico e americano.

O terrorismo é uma mensagem escrita na parede mas por uma razão qualquer a maioria dos ocidentais não a consegue ler. O nosso entusiasmo em levar a Coca-Cola ao mundo muçulmano tem de ser refreado imediatamente. Devemos guardar as nossas fantasias democráticas liberais para nós mesmos, especialmente agora quando se provou ser uma ideia errada. A nossa insistência em tornar os árabes e muçulmanos tão estúpidos como nós não vai resultar. Temos de deixar as pessoas viverem a sua vida de acordo com as suas crenças e heranças culturais.

O Ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Milband, bem como outros políticos, anunciaram ontem que o ataque a Bombaim é um ataque contra a democracia ocidental. Eu penso que temos de encarar a situação, enquanto as democracias ocidentais tratarem os muçulmanos como alvos fáceis, os ocidentais podem ser também sujeitos a retaliação e terrorismo.

 

Eu sugeria a Miliband e aos seus colegas que parassem imediatamente de tentar democratizar o mundo. Ao fazerem isso iriam simplesmente tornar este mundo num lugar mais seguro e, de longe, melhor para se viver.

 

 

Texto de Gilad Atzmon publicado no Palestine Think Tank a 28 de Novembro de 2008. Tradução de Alexandre Leite para a Tlaxcala e InfoAlternativa.


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