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investigandoonovoimperialismo

A Rússia invade a Ucrânia. Novamente. E outra vez. E ainda mais uma vez… usando as Armas de Destruição em Massa de Saddam

26.01.15

“A Rússia reforçou aquilo que os oficiais ocidentais e ucranianos descrevem como uma invasão encapotada na quarta-feira [27 de Agosto], enviando forças armadas através da fronteira, expandindo o conflito a uma nova secção do território ucraniano. A última incursão, que segundo os militares ucranianos incluía cinco veículos de transporte de forças armadas, foi pelo menos o terceiro movimento de tropas e armas da Rússia para a zona sudeste da fronteira durante esta semana.”

Nenhuma das fotografias que acompanha esta notícias na versão electrónica do jornal New York Times  mostrava essas tropas russas ou veículos militares.

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Cartoon de Olle Johansson, Suécia

 

“A administração Obama,” prosseguia a notícia, “afirmou na passada semana que os russos movimentaram artilharia, sistemas de defesa anti-aérea e equipamento militar para ajudar os separatistas em Donetsk e Lugansk". ‘Estas incursões indicam que está provavelmente a decorrer uma contra-ofensiva dirigida pela Rússia’, disse Jen Psaki, o porta-voz do Departamento de Estado. Na atualização diária do Departamento, em Washington, a Sra. Psaki também criticou o que chamou de 'pouca vontade de dizer a verdade' por parte do governo russo, sobre a entrada dos seus soldado até 30 milhas no interior do território ucraniano.”

Trinta milhas dentro do território ucraniano e nem uma única fotografia de satélite, nem uma câmara por perto, nem mesmo um vídeo de um minuto que o demonstre. “A Sra. Psaki aparentemente [sic] estava a referir-se a vídeos de soldados russos capturados, distribuídos pelo governo ucraniano.” O Times aparentemente esqueceu-se de informar os seus leitores de onde poderiam ver esses vídeos.

“O objetivo russo, disse um oficial ocidental, pode ser o de conseguir uma saída para o mar na eventualidade da Rússia tentar estabelecer um enclave separatista no leste da Ucrânia.”

Isto, obviamente, não aconteceu. Então o que aconteceu a todos aqueles soldados russos a 30 milhas no interior da Ucrânia? O que aconteceu a todos os veículos armados, armas e equipamento?

“Os Estados Unidos têm fotografias que mostram que a artilharia russa se movimentou para o interior da Ucrânia, disse um oficial americano. Uma fotografia com data da passada quinta-feira, mostrada a um repórter do jornal New York Times, mostra unidades militares russas a transportarem artilharia para a Ucrânia. Outra fotografia, datada de sábado, mostra a artilharia pronta a ser disparada em posições na Ucrânia.”

Onde estão essas fotografias? E como é que vamos saber se são soldados russos? E como podemos saber que as fotografias foram tiradas na Ucrânia? Mas mais importante, onde estão o raio das fotografias?

Por que sou tão cínico? Porque os governos dos EUA e da Ucrânia foram contando estas histórias de terror durante os últimos oito meses, sem evidências claras, frequentemente até sem senso comum. Eis alguns dos inúmeros exemplos, antes e depois do já referido:

  • O jornal Wall Street Journal (28 de Março) noticiou: “Tropas russas que se juntam perto da Ucrânia estão a camuflar as suas posições e a estabelecer linhas de abastecimento que poderão ser usadas numa acção armada prolongada, aumentando a preocupação de que Moscovo se esteja a preparar para outra [sic] grande incursão e não apenas a efectuar exercícios como argumenta, disse um oficial dos EUA.”

  • “O governo ucraniano alertou que os militares russos não estavam apenas a aproximar-se mas que teriam já atravessado a fronteira e entrado nas regiões dominadas pelos rebeldes.” (Washington Post, 7 de Novembro)

  • “O General Philip M. Breedlove da Força Aérea dos EUA afirmou aos jornalistas na Bulgária que a NATO observou tanques russos, artilharia russa, sistemas de defesa anti-aérea russos e tropas de combate russas a entrar na Ucrânia por uma fronteira completamente aberta nos últimos dois dias.” (Washington Post, 13 de Novembro)

  • “A Ucrânia acusa a Rússia de enviar mais soldados e armas para ajudar os rebeldes a preparem-se para uma nova ofensiva. O Kremlin negou repetidamente ter ajudado os separatistas.” (Reuters, 16 de Novembro)

Desde o golpe de Fevereiro na Ucrânia, apoiado pelos Estados Unidos, o Departamento de Estado fez acusações atrás de acusações acerca de acções militares russas no leste da Ucrânia sem apresentar nenhuma imagem de satélite ou outra prova documental visual; ou apresentaram coisas muito pouco claras e inconclusivas, tais como veículos descaracterizados, ou relatos sem uma fonte definida, ou citações das "redes sociais"; o que sobra é quase sempre nada mais que uma simples acusação. O governo ucraniano tem feito a mesma coisa.

Acima de tudo, devíamos ter em mente que se Moscovo decidisse invadir a Ucrânia, certamente dariam uma cobertura aérea às suas tropas no terreno. Não foi mencionada nenhuma cobertura aérea.

Isto são reminiscências de inúmeras histórias ouvidas nos últimos três anos sobre “aviões sírios a bombardearem cidadãos indefesos”. Já viram alguma fotografia ou vídeo de um avião governamental sírio a largar bombas? Ou as bombas a explodirem? Quando se menciona a fonte da notícia, quase invariavelmente tratam-se dos rebeldes que estão a combater o governo sírio. E depois há os ataques com "armas químicas" feitos pelo mesmo diabólico governo de Assad. Quando as histórias foram acompanhadas de fotografias ou vídeos nunca vi os parentes enlutados ou meios de comunicação presentes; não se vê nenhuma pessoa com máscara de gás. Só há crianças mortas ou a sofrer? Não há rebeldes?

E depois há o derrube, a 17 de julho, do avião malaio do voo  MH17, sobre o leste da Ucrânia, tirando 298 vidas, que Washington adora apontar o dedo para a Rússia ou para os rebeldes pró-russos. O governo dos EUA – e portanto os meios de comunicação dos EUA, a UE e a NATO – quer que acreditemos todos que por trás desse acontecimento estiveram os rebeldes e/ou os russos. O mundo ainda está à espera de provas. Ou mesmo de um motivo. Qualquer coisa. O Presidente Obama não espera. Numa conferência na Austrália, a 15 de novembro, ele falou em "opor-se à agressão russa contra a Ucrânia - que é uma ameaça para o mundo, como pudemos ver com o derrube do voo MH17". Do meu ponto de vista, desconfio que o governo ucraniano está por trás do derrube, confundindo o avião com o do Presidente Putin que alegadamente estava naquela zona.

Pode-se dizer com certeza que todas as acusações são mentira? Não, mas o ónus da prova está nos acusadores, e o mundo ainda está à espera. Os acusadores gostariam de criar a impressão de que há dois lados para cada questão, mas sem efetivamente mostrar um deles.

 

 Texto de William Blum publicado a 19 de Novembro de 2014 em WilliamBlum.Org. Tradução de Alexandre Leite.


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