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investigandoonovoimperialismo

Adolescente americana ameçada pela direção da escola por ser ativista pró-palestiniana

10.01.16

Bethany Koval, uma ativista adolescente de 16 anos, impressionantemente desafogada e consciente, de Fair Lawn, Nova Jérsia, a estudar na Escola Secundária de Fair Lawn viu ontem serem-lhe apontados os dedos por causa do seu ativismo político. Aquilo que começou por um comentário sobre um bombardeamento de uma praia de Gaza: “Eu falei sobre o número de mortos e chamei terrorista ao governo de Israel", acabou por resultar numa convocatória para ir ao gabinete do diretor da escola, onde foi intimidada, ameaçada com ações legais, e coagida a assinar uma declaração.

rGAOw42Y_400x400.jpgComo Koval foi divulgando ao longo do dia a sua experiência no Twitter, ativistas nas redes sociais rapidamente se organizaram e iniciaram um marcador (hashtag),  #IStandwithBenny [EuApoioBenny]. As notícias do assédio de que foi alvo espalharam-se como fogo a nível nacional e internacional. Já se tornou viral.

O Director acabou de me chamar. Estou prestes a ser confrontada por ser anti-Israel. Rezem por mim.

— benny (@bendykoval) 6 de janeiro de 2016

 

“Eu tenho o direito de falar”, começa assim a declaração coagida de Koval, fotografada e enviada para o mundo pelo Twitter. “O Sr. Guaginino intimidou-me para que escrevesse a declaração sem nenhum advogado presente”, referindo-se ao sub-diretor da Escola Secundária de Fair Lawn, Frank Guadagnino.

Ela é inteligente e desafiadora. “Eu expressei as minas opiniões políticas na internet sobre o governo de Israel, e irei continuar a fazer isso. Eu não serei silenciada pelo medo. Não me submeterei à intimidação."

Onze dias antes, a 27 de dezembro, Bethany Koval iniciava no sua conta do Twitter uma sequência extensa de publicações explicando em termos simples e claros por que razão Israel é um Estado de apartheid. Ela começou de forma suave, assim:

 

Israel é um Estado de apartheid. Eis porquê, de forma simples: vindo de um judeu israelense. [THREAD]

 — benny (@bendykoval) December 27, 2015

 

Sem desleixo, as publicações iniciais de Bethany citavam responsavelmente o dicionário Oxford:

 

“Apartheid” pode ser definido como uma segregação com base na raça. Alguns dizem que esse termos não se aplica a Israel porque há livre direito de voto. Mas “segregação” pode ser definido como “a separação forçada entre diferentes grupos raciais num país, comunidade ou estabelecimento”.

 

Depois ela divulgou uma ligação do jornal Times of Israel sobre os apelos de um antigo diretor da Shin Bet [Agência de Segurança de Israel] a favor de uma segregação rodoviária na Cisjordânia, divulgou artigos do jornal israelense Haaretz, bem como o vídeo horrendo e infame de uma dança num casamento de colonos onde celebravam esfaqueando uma fotografia de Ali Dawabshe, o bebé palestiniano de 18 meses queimado vivo a 31 de Julho. Toda a sequência de publicações está disponível aqui e a revista na internet Muftah republicou grande parte num artigo com o título "Como Uma Adolescente de Nova Jérsia Foi Trucidada Pela Sua Escola Por ser Pró-Palestiniana".

 

Eis a declaração completa que ela foi forçada a escrever depois de claramente ter dito “Eu não quero fazer uma declaração" e reforçando que “acredito que tenho direito a um advogado“.

 

Foi-me negado o direito a um advogado. Fui forçada a escrever uma declaração, mas eu pedi-lhes que a revogassem.

 — benny (@bendykoval) 6 de janeiro de 2016

 

Bethany Koval

Aqui ele intimidou-me a fazer uma declaração sem eu ter apoio legal.

 — benny (@bendykoval) 6 de janeiro de 2016

 

Durante as férias escolares, no dia 22 de dezembro, Koval envolveu-se numa conversa sobre Palestina/Israel e sobre a viabilidade de uma solução de dois Estados e a discussão chegou ao tema do Hamas. Koval disse que não achava que o Hamas era extremista; “O Hamas é pintado dessa forma. A retórica odiosa contra o Hamas foi o que permitiu o bombardeamento de Gaza”. Uma outra estudante da sua escola sentiu-se ofendida pelas suas publicações no Twitter e começou a debatê-las com amigos. Pareceu a Koval que talvez pudesse meter-se em sarilhos e que as suas opiniões fossem interpretadas como "discurso de ódio".

 

Ela explicou na sua declaração às autoridades: “Uma menina…disse aos seus amigos que eu não tinha direito a falar sobre isto, e não mencionou a minha etnia judaica”. Infelizmente não é a primeira vez que se desdenha origem étnica judaica de quem expõe as atrocidades de Israel. Koval escreveu que retaliou fazendo uma publicação no Twitter sobre isso, uma “mensagem geral”. A partir disso, houve estudantes que fizeram queixa dela e a acusaram de acossamento escolar (bullying), algo que é punível com uma suspensão e/ou expulsão, no Estado de Nova Jérsia.

 

“Sou acusada de bullying, penso que por eu desejar uma Palestina Livre. A liberdade de expressão é acorrentada e espancada nesta escola.”

 

Um proeminente professor universitário, Steven Salaita, publicou no TwitterOs sionistas andam agora atrás de adolescentes. Não me surpreende.” Notícias da sua situação foram traduzidas para árabe e espalharam-se rapidamente nas redes sociais da internet:

Koval árabe

 Ativistas de todo o mundo inundaram a escola e as autoridades locais comunicando o seu desagrado, tendo entretanto Koval feito um pedido para que parassem essas comunicações com a escola.

Apesar do apoio vindo de todo o mundo, Benny fez uma publicação no Twitter dizendo que os seus pais não apoiavam os seus pontos de vista.

 

Ambos os meus pais discordam de mim.

— benny (@bendykoval) 6 de janeiro de 2016

 

Depois de ter lido uma publicação alarmante dizendo que os seus pais estavam "REALMENTE furiosos" e preocupada com a sua situação em casa, eu falei com Bethany Koval. Ela está agora a ser acompanhada pelo advogado de Nova Iorque, Stanley Cohen, e evidentemente Cohen acalmou os nervos da sua mãe, “Ele falou com ela e ela acalmou-se mesmo”.

 

É difícil de lidar com o facto de ter uma filha foco de tanta atenção com uma controvérsia tão quente, mas a mãe está a conseguir de alguma forma adaptar-se à situação.

Eu perguntei a Bethany se ela estava preparada para a celebridade.

 “Não, nem por isso. Eu não quero ser a face do movimento, eu quero que os palestinianos sejam a face do movimento. Não é correto quando pessoas privilegiadas ficam com os créditos do que outras pessoas, não privilegiadas, andam a dizer há muito tempo.”

 

Foste contactada por grandes meios de comunicação?

 “Pelo jornal The New York Times

 

Sentes que estás a aumentar a consciência à tua volta, na escola?

 “Será estranho regressar. Eu vejo a divisão entre grupos de amigos. Alguns alunos da minha escola contactaram-me e disseram que estão atentos, que me apoiam. Eu não estava à espera, não tinha previsto isso.”

 

Entretanto, na internet ela está rapidamente a tornar-se num modelo de liberdade de expressão para os jovens ativistas pró-palestinianos. Inteligente, com moral, politicamente perspicaz, consciente e também com classe:

 

Quando os sionistas esperam que eu seja a favor do genocídio palestiniano porque sou uma judia israelense pic.twitter.com/ixgCfE3Rua

 — benny (@bendykoval) 6 de janeiro de 2016

 

Entretanto Koval publicou no Twitter: "E disse uma vez que o 'Hamas não é extremista', mas eu queria dizer que 'o Hamas não é o único extremista'. Era isso que eu queria dizer. Não sou apologista do Hamas. Apenas considero escandaloso que se deitem as culpas todas para cima do Hamas. As IDF [Forças de Defesa de Israel] não são totalmente inocentes.

 

Texto de Annie Robbins publicado em mondoweiss.net a de 7 de Janeiro de 2016.


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