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investigandoonovoimperialismo

Empresa de limpeza em Tel Aviv tem diferentes preços conforme a origem étnica das funcionárias

15.02.16

Estão a ser promovidos serviços de limpeza a potenciais clientes no norte de Tel Aviv com um panfleto que mostra diferentes preços conforme a origem étnica da funcionária. A publicidade também se refere às suas trabalhadoras apenas no feminino.

 

Uma empresa que disponibiliza serviços de limpeza e trabalhos domésticos no norte de Tel Aviv levou o termo “recursos humanos” a um outro nível, distribuindo um panfleto de diferencia o preço conforme a origem étnica da funcionária.

racismo israel limpeza

 O panfleto distribuído no norte de Tel Aviv que oferece serviços de limpeza de acordo com a origem étnica da funcionária (só mulheres) de limpeza.

Precisa de uma trabalhadora em sua casa?
Está cansado de contratar estrangeiros ilegais e ser multado?
Recusa empregar uma trabalhadora árabe por razões de segurança?
Está cansado de empregar trabalhadores temporários e ser punido?
Há uma solução!
Nós podemos ajudá-lo a conseguir donas de casa e todas são legais
Uma trabalhadora com Cartão de Cidadão israelense 69 Shekels por hora (mínimo 5 horas)
Uma trabalhadora de leste 52 Shekels por hora (mínimo 5 horas)
Uma trabalhadora africana 49 Shekels por hora (mínimo 5 horas)
Um preço especial para um dia de trabalho de 12 horas

 

O anúncio, que foi distribuído numa das zonas mais concorridas de Tel Aviv, foi primeiramente mostrado no Facebook por uma bloguista política, Tal Schneider, que o recebeu de uma pessoa conhecida.

Começando com uma sensaborona lista de questões de estilo comercial, o panfleto pergunta: Precisa de uma dona de casa? Está cansado de contratar estrangeiros ilegais e ser multado? Não está preparado para ter uma funcionária árabe por razões de segurança? Está cansado de contratar legalmente e ser processado por trabalhadores temporários?

O panfleto então apresenta a “solução” para todos esses desagradáveis e onerosos problemas, disponibilizando donas de casa e funcionárias de limpeza “todas legais", com os preços por hora de acordo com a etnia da funcionária.

As trabalhadoras mais baratas são as dos países africanos, a 49 NIS [cerca de 11 euros] por hora. Um pouco mais caras são as trabalhadoras da Europa de Leste, a 52 NIS [cerca de 12 euros] por hora. De longe as mais caras são da Europa de Leste que tenham cidadania de Israel, a 69 NIS [cerca de 16 euros] por hora.

O panfleto também se refere às funcionárias apenas no feminino (o hebraico é uma língua com género), o que em conjugação com a fotografia ilustrativa de uma serena (e branca) mulher a limpar uma janela, acrescenta um travo de sexismo à situação.

Muitos presumirão imediatamente que isto se trata de uma sátira para caricaturar o profundo e claro racismo existente na sociedade israelense mas infelizmente não é o caso pois, de acordo com a agência de notícias Mako [em hebraico], que disse ter contactado uma funcionária da empresa, confirma-se que é um caso real. A funcionária também terá dito que o pagamento de valores diferentes conforme a etnia não é ilegal.

De cada vez que uma tão descarada e vergonhosa demonstração de  racismo subtil aparece neste país, a resposta imediata é perguntar como seria se outro país fizesse a mesma coisa: imaginem, por exemplo, a celeuma que causaria se uma empresa americana definisse os preços dos serviços de limpeza conforme as trabalhadoras (apenas mulheres) fossem oriundas da Ásia ou se fossem afro-americanas.

É uma comparação tentadora e válida. Mas é também triste porque demonstra quão profundo é o preconceito em Israel: é preciso mostrar outros exemplos horrendos de discriminação para que as pessoas percebam a natureza do estado das coisas. E qualquer um que se queira consolar com a ideia que este tipo de racismo específico não é uma ocorrência perfeitamente normal cá, só precisa de olhar para um outro mini-incidente que aconteceu há uns meses.

Em outubro, em resposta a uma onda de esfaqueamentos e outros ataques terroristas, o município de Givatayim, nos subúrbios de Tel Aviv, começou a estudar a possibilidade de substituir todos os auxiliares escolares palestinianos por funcionários eritreus [notícia em hebraico]. O que é que o impediu? Uma lei da responsabilidade do governo  de Israel que barra a possibilidade de emprego a africanos que tenham pedido asilo na região central israelense.

Na base de tudo isto, obviamente, está o entendimento não verbalizado de que este tipo de trabalho manual é só para entregar a não-judeus (daí, por exemplo, um proeminente advogado ter comentado comigo uma vez que “os judeus são inteligentes de mais” para este tipo de trabalho).

Mais uma coisa: a última cenoura acenada aos potenciais clientes é o preço especial de uma "dia completo" de 12 horas de trabalho. Recursos humanos, sem dúvida.

 

Texto de Natasha Roth publicado na +972 em 6 de fevereiro de 2016. Tradução de Alexandre Leite para a Tlaxcala, Rede de Tradutores para a Diversidade Linguística.


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