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Timor-Leste: tropas da Anzac aterrorizam apoiantes da Fretilin

04.04.07

Helen Clark e John Howard, e alguns dos seus apologistas na esquerda australiana, dizem que as tropas da Anzac em Timor-Leste estão a trabalhar para aí promoverem a democracia. Os apoiantes da Fretilin pensam de outra maneira…

 

Na semana passada, a Fretilin, um partido de Timor-Leste, revelou que as tropas australianas pararam uma caravana dos seus apoiantes apontando armas e ameaçando matar um deles. A caravana de veículos da Fretilin estava de regresso de um comício eleitoral na cidade de Gleno, no dia 26 de Março, quando apareceu um veículo armado australiano. As tropas australianas apontaram as suas armas aos apoiantes da Fretilin e o condutor de um dos carros foi tirado do seu veículo, pisado, e teve uma arma apontada à cabeça. Quando o condutor tentou protestar, o australiano que empunhava a arma gritou ‘Fuck you. I’ll kill you’ [Vai-te f***r. Eu mato-te.]

 

Mari Alkatiri, o secretário-geral da Fretilin e antigo Primeiro-Ministro, disse que o seu partido estava furioso com as acções dos australianos. Alkatiri e o candidato presidencial da Fretilin, Lu Olo, faziam ambos parte da caravana que partira de Gleno, e Alkatiri testemunhou os actos das tropas australianas.

 

A intimidação de apoiantes da Fretilin acontece na mesma semana em que foram feitas ameaças a Alkatiri pelo chefe da Comissão Nacional de Eleições de Timor, Martinho Gusmão, que é familiar do Presidente de Timor-Leste, Xanana Gusmão. Martinho Gusmão acusou Alkatiri de demonstrar que era ‘incapaz de liderar’, e ameaçou a Fretilin com sanções não especificadas, por causa do discurso que Alkatiri fez num campo de refugiados perto de Díli. Alkatiri tinha dito aos refugiados, que têm resistido à expulsão durante meses e que foram vítimas de um ataque sangrento das tropas australianas em Fevereiro, que o novo partido formado pelo Presidente e apoiado pelo Primeiro-Ministro José Ramos Horta era um ‘ninho de mentirosos’.

 

O incidente da semana passada só pode ser compreendido no contexto da crescente resistência dos timorenses quer ao governo de Horta-Gusmão quer à ocupação seu país pela Anzac [forças militares da Austrália e da Nova Zelândia]. A 21 de Março o governo da Nova Zelândia anunciou que ia enviar dois helicópteros Iroquois e trinta e duas pessoas de apoio para Timor-Leste. As novas forças juntam-se aos 175 soldados da Nova Zelândia que fazem parte das onze centenas de militares do ‘grupo de combate da Anzac’ que ocupa Timor-Leste desde meados do ano passado. A nova contribuição neozelandesa para a ocupação seguiu-se a uma decisão do governo de John Howard [Austrália] de enviar mais 150 polícias australianos para Timor-Leste. Helen Clark [Primeira-Ministra da Nova Zelândia] argumentou que o reforço a ser enviado para Timor-Leste irá ‘disponibilizar mais capacidade de transporte às operações das Nações Unidas’ previstas para ‘garantir a segurança’ dos preparativos das eleições presidenciais marcadas para 9 de Abril.

 

Na realidade, os reforços de Clark e Howard são uma resposta a sérios desafios à autoridade da ocupação da Anzac e do governo timorense pró-Anzac. A 23 de Fevereiro, a capital timorense, Díli, rebentou em protesto depois de tropas e tanques australianos terem invadido o campo de refugiados perto do aeroporto de Díli e ferido mortalmente dois dos seus residentes. Foram atacados restaurantes frequentados pelos australianos e dezenas de veículos da ONU foram apedrejados. A 4 de Março uma operação atarantada das tropas australianas e neozelandesas matou mais cinco timorenses nas montanhas a sul de Díli, o que levou milhares de residentes na cidade a erguerem barricadas, queimar pneus e gritar “Australianos, vão para casa!”

 

John Howard elogiou e contribuiu para o ‘surto’ de novas forças militares para o Iraque que Bush fomentou, e os reforços que Howard e o seu aliado de Wellington [capital da Nova Zelândia] enviaram para Timor-Leste podem ser vistos como uma repetição da mesma estratégia, mas numa escala mais pequena. Howard e Clark esperam que mais músculo policial e militar ajudem a diminuir os levantamentos contra o governo Horta-Gusmão e contra a sua própria presença em Timor-Leste.

 

Por seu lado, Horta e Gusmão perderam o seu velho apoio de base da Fretilin, o tradicional partido das massas de Timor-Leste, e muita da população se virou também contra eles, por serem considerados tão próximos da ocupação da Anzac. No entanto, quanto mais apoio popular eles perdem, mais os líderes timorenses se apoiam na Anzac para implementar as suas políticas. O ataque das tropas australianas a um campo de refugiados, a 23 de Fevereiro, por exemplo, seguiu-se a meses de tentativas infrutíferas de Horta e Gusmão para forçar a deslocação das pessoas e o regresso a suas casas. O campo que os australianos atacaram tinha resistido a Horta construindo barricadas e atirando pedras e flechas a atacantes da polícia local. Horta apostou nos australianos para expulsarem os refugiados, mas o seu ataque sangrento apenas desgastou mais a sua popularidade.

 

Mari Alkatiri, que planeava candidatar-se a Presidente mas abriu espaço eventualmente para o menos conhecido Lu Olo, tornou-se o pára-raios da insatisfação com a ocupação da Anzac e com a atitude do governo Horta-Gusmão. Alkatiri diz que a intervenção militar do passado Maio foi o culminar de uma campanha da Austrália para desestabilizar o seu governo, que estava a tentar seguir políticas mais independentes da Austrália. Alkatiri refere que a intervenção não lhe deu outra hipótese que não fosse resignar ou então iniciar um banho de sangue. Ele apresenta a campanha da Fretilin para a presidência como uma oportunidade para reverter a injustiça do ano passado, e dar um safanão na interferência australiana em Timor-Leste. Semanas antes do recente incidente ele argumentava que as forças da Anzac estavam a trabalhar para sabotar a campanha do seu partido. O incidente da semana passada suporta as suas alegações, e mostra mais uma vez que as forças da Anzac estão em Timor-Leste mais para sabotar do que para promover a democracia e a estabilidade.

 

 

Eis o comunicado de imprensa da Fretilin sobre o incidente:


FRENTE REVOLUCIONÁRIA DO TIMOR-LESTE INDEPENDENTE
FRETILIN



Comunicado de Imprensa

30 de Março de 2007

Fretilin apresenta protesto contra militares australianos

Fretilin apresentou hoje um protesto formal ao Comandante da Foras Australianas em Timor-Leste, Brigadeiro Mal Rerden, em relação ao assalto e humilhação causados a um militante da Fretilin por militares australianos no dia 26 de Março de 2007
O partido no governo de Timor-Leste pediu para que um processo disciplinar seja movido pelas Forças Armadas Australianas (ADF), em relação aos soldados australianos envolvidos, e que um pedido de desculpas formal seja emitido com relação ao incidente.

Em carta dirigida ao Brigadeiro Rerden, Mari Alkatiri, Secretário Geral da Fretilin, disse que e necessário que a ADF tome medidas sobre este caso para evitar que tais incidentes se repitam, cujas fotografias foram publicadas no Timor Post na terça feira passada (27 de Março).

O incidente ocorreu quando uma delegação da FRETILIN tinha acabado de sair da vila de Gleno, situada no distrito de Ermera, após um comício popular aí realizado de apoio à candidatura de Francisco Guterres “ Lu Olo” para Presidente da República.

O Dr. Alkatiri, que foi uma dos testemunhas do incidente, disse que um veículo das Forças Armadas Australianas (ADF) tentou entrar no meio da caravana de carros que acompanhavam a delegação da FRETILIN, e a sua entrada foi recusada. Alkatiri disse que, enquanto um soldado australiano apontava a sua arma ao condutor de um dos carros da caravana, um outro puxou um passageiro do veículo, pisou nele com a arma apontada à sua cabeça. Quando o militante da FRETILIN tentou resistir, o soldado australiano gritou, “Fuck you. I’ll Kill you” (Vai-te f***r. Eu mato-te).

“Um dos elementos da minha segurança pessoal tentou intervir mas foi ordenado para que não o fizesse pelo soldado australiano que lhe apontara a arma. Os soldados australianos só se retiraram quando receberam ordens do seu comandante”, acrescentou Alkatiri

“A nossa caravana de carros estava de regresso de um comício de sucesso, que tinha decorrido pacificamente. Os militantes da FRETILIN não estavam armados e não constituíam qualquer tipo de ameaça aos militares australianos. Este comportamento dos soldados australianos é totalmente inaceitável e injustificável”.

Para mais informações, por favor contacte:
Mari Alkatiri (+670) 733 2630 (Dili)
Filomeno Aleixo: (+670) 7243460 (Dili)
Arsenio Bano: (+670) 723 0023 (Dili)
Jose Manuel Fernandes: (+670) 7342170 (Dili)


Texto da autoria de Scott Hamilton publicado a 2 de Abril de 2007 em http://readingthemaps.blogspot.com e http://indymedia.org.nz/newswire/display/72819/index.php. Tradução de Alexandre Leite.


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