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investigandoonovoimperialismo

Então o que é que mudou?

31.05.07

É hora de uma conversa séria sobre o assunto das alterações climáticas, do capitalismo, e da forma como os movimentos progressistas abordam o tema, pelo menos no chamado mundo desenvolvido. (Os progressistas do mundo desenvolvido têm agora necessidades mais prementes e é por isso que temos de nos juntar.)

Muito bem, um bando de cientistas 'eminentes' colaram oficialmente o selo de aprovação à mudança climática mas também é obvio que as maiores nações industriais não estão preparadas para arregaçar as mangas e fazer o que é necessário para parar a escorregadela quanto mais para revertê-la.

Em vez disso, a indústria publicitária já criou o seu conceito 'verde' e com o hábil apoio do governo, está a montar um enorme campanha de propaganda cujo único objectivo é transferir a responsabilidade das alterações climáticas para o consumidor.

A questão que os socialistas têm de fazer é simples: O que é que mudou? O capitalismo pré-alterações-climáticas é idêntico em todos os aspectos ao de hoje. Aquilo que se passou é que o nosso passado nos apanhou, o que não deveria ser uma surpresa para quem saiba um mínimo sobre a forma de funcionamento do capitalismo.

O caso é que pode ser já tarde demais para parar as mudanças que estão a acontecer no nosso clima, nada modificando a nossa abordagem excepto que aumentou a urgência da situação.

Historicamente, a esquerda olhou para os 'verdes' com desconfiança e nalguns casos, pelas razões certas. Não tendo uma perspectiva de classe, o movimento ambientalista (ou será melhor, os movimentos?) não conseguiu identificar as reais causas da crise que enfrentamos. Pior do que isso, tendo agora encontrado um 'aliado' no governo e como não tem uma perspectiva de classe, está agora a pedalar no trilho do governo, especialmente na passagem da batata quente para o 'consumidor'.

De facto, o movimento ambientalista corre o risco de se tornar totalmente cúmplice no processo da passagem da responsabilidade daqueles que governam para os trabalhadores. O que acontece é que como em todas as crises que enfrentamos, o tema da mudança climática está inextricavelmente ligado ao modo de funcionamento do capitalismo, não apenas porque ele é estruturalmente incapaz de fazer as mudanças necessárias mas também porque os interesses instalados do estado e dos negócios estão unidos, por isso, esperar que eles façam as mudanças necessárias voluntariamente é uma fantasia. Ter engaiolado o movimento ambientalista deu ao estado uma fina camada verde, mas raspem um bocadinho e o verdadeiro núcleo de ferro fica à mostra para todos verem.

E talvez ainda mais importante, pelo menos nas circunstâncias actuais, é a forma como a elite dominante está a explorar a devastação que o nosso sistema político-económico causou no planeta e nos seus habitantes. Importante porque o estado está a explorar os medos, quer reais quer imaginários, que muitas pessoas sentem em relação ao futuro (esqueçam o terrível presente), e é um medo que o estado foi lesto a explorar, por exemplo, usando o eufemismo da 'segurança energética'.

Torna-se claro que, apesar de tudo, a maioria das pessoas no mundo desenvolvido sabem muito bem que a sua riqueza relativa depende da (crescente) pobreza da grande maioria das pessoas do planeta. Daí um aspecto da campanha de propaganda ser o de ligar o medo de perder uma posição de (relativo) privilégio, por exemplo, ligando a 'guerra ao terrorismo' à 'segurança energética'.

Deveria ficar claro, deste modo, que seleccionar os 'muçulmanos fanáticos' como foco de atenção, não foi uma escolha à toa, dado o facto de o grosso das reservas conhecidas de petróleo estarem em países que são muçulmanos.

Independentemente do que dizem os propagandistas, o petróleo é fulcral para as economias ocidentais e tem sido assim pelo menos desde há um século. Petróleo, não apenas para alimentar o seu insaciável apetite de fabricar produtos mas também, é claro, para alimentar o poderio militar para obter aquilo que não é seu. [1]

Entretanto, a BBC está a produzir abundantemente programas 'verdes' mostrando principalmente uma mão cheia de pessoas da classe média bem arrumadinhas em grandes casas com paisagens rurais. Os 'menos afortunados' de nós, ficam com o tratamento dos 'cálculos da poupança energética' ou com algumas inúteis turbinas eólicas aparafusadas aos telhados.

Tendo gasto décadas a inculcar a cultura de consumo, as desafortunadas pessoas estão agora a ser conduzidas à culpa por fazerem precisamente isso – consumir alegremente como se não houvesse amanhã.

E é claro que a culpa é expiada pelo consumo de produtos e serviços 'verdes'. “A poupar o ambiente” foi comercializado como tudo o resto.

A verdadeira natureza do capitalismo é a de um caos quase controlado, sempre balançando na margem da crise e muitas vezes caindo na calamidade, guiado pelos seus imperativos de expandir (isto é, de reproduzir o capital) sem olhar a consequências, como a ocupação do Iraque demonstra.

Para os socialistas, o tema da desestabilização do clima apenas reforça a visão de que o capitalismo é mau para nós, por isso, o objectivo tem de ser o de ligar a natureza arbitrária da produção capitalista à sua incapacidade de produzir uma solução que implique uma reorganização completa da economia de base, não apenas desta sociedade como também de todo o planeta.

O caso é simples: o capitalismo é capaz de o fazer? A julgar não apenas pela sua resposta à actual situação mas também pelo seu passado, a resposta é um estrondoso não.

Em última análise, o tema do aquecimento global é irrelevante para a crise que enfrentamos pois nada mudou. Para o capitalismo, continua o 'business as usual' [o negócio a rolar], a forma como nos são vendidos os produtos é que mudou. Assim, o desafio do aquecimento global é transformado numa maquina de marketing que serve para os automóveis 'verdes' como para qualquer outro produto que tenha o rótulo 'verde' colado nele.

Ao contrário dos filmes do Armaguedão que Hollywood produz a jorros, nos quais a humanidade se junta para derrotar uma ameaça extra-terrestre, quando confrontado com um cenário comparável no mundo real, fazer o que está certo pela humanidade escapa a estes campeões da 'democracia' e dos 'direitos humanos'.

Eu sei que isto soa naif e provavelmente é, mas fazer uma conferência global de nações na qual os países ricos concordem em colocar os seus vastos recursos à disposição das pessoas do planeta, parece-me ser, dada a gravidade da situação, o óbvio a fazer.

O facto de eles não fazerem isso, ou algo do género, é prova suficiente de que eles são incapazes de agir racionalmente, muito menos responsavelmente. Um facto que deve dar um arrepio na espinha a qualquer pessoa pensante é perceber que temos este tipo de pessoas no poder! Pior ainda, que permitimos que continuem a destruir o nosso outrora belo planeta.

Colectivamente, o planeta tem os recursos necessários para iniciar a mudança na forma como nós vivemos, e por 'nós' eu quero dizer aqueles de nós que fazem parte dos 10% ricos e privilegiados do mundo, e nesse processo ajudar os países desenvolvidos a implementar programas de desenvolvimento económico sustentável. Que Diabo! Não é assim tão complicado!

Não posso explanar muito este ponto, mas é imperativo que as pessoas reconheçam que as nossas elites políticas e económicas são patologicamente incapazes de iniciar este tipo de mudanças que precisam de ser feitas, ou agora ou numa outra altura do passado. Eles têm de ir embora, e só nós é que nos podemos livrar deles. E isto refere-se a todos os partidos políticos existentes, não apenas aos 'governos'.

Se não fizeram mais nada, as alterações climáticas fizeram-nos, pelo menos, perceber que vivemos num planeta indivisível e as mudanças que estão a acontecer são globais, por isso, só uma resposta colectiva global irá ser suficiente.



Nota
1. Ver a minha
análise [em inglês] ao excelente livro de William Engdahl, ‘A Century of War – Anglo-American Oil Politics and the New World Order’, Pluto Books, 2004.


 


Texto de William Bowles publicado a 30 de Maio de 2007 em http://williambowles.info/ini/2007/0507/ini-0485.html . Tradução de Alexandre Leite.

Inacção da Democracia

27.05.07

Acreditem ou não, houve um tempo em que os trabalhadores realmente participaram de forma directa no processo político, acreditando que como membros da classe produtora eles podiam lidar com os assuntos do estado e eventualmente tomar o controlo da empresa para a qual trabalhavam; o socialismo do séc. XIX era basicamente sobre isto. A totalidade dos textos de Marx debruçava-se essencialmente sobre a forma como o capitalismo industrial tinha criado as pré-condições para esta reviravolta, uma análise que incluía a natureza da crescente socialização da produção e da distribuição tornada possível pelo sistema fabril que por sua vez tinha conduziu à formação de sindicatos e partidos políticos dos produtores que os iriam representar e lutar pelos seus interesses.


No entanto, a ‘educação’ mandatada pelo estado tinha um objectivo muito mais limitado, nomeadamente o de equipar os trabalhadores com o mínimo de capacidades necessárias para colocar em funcionamento as máquinas e os processos industriais do capitalismo. A educação para além deste objectivo mínimo era não só considerada desnecessária como perigosa.


O tema de como é que esta revolução iria aparecer ocupou a esquerda desde essa altura: seria através de uma revolução, armada ou não, ou através do boletim de voto, ou talvez uma combinação dos dois?


O papel da educação neste processo foi reconhecido pela geração dos meus pais. O meu pai, que deixou a escola aos 14 ou 15 anos de idade, foi totalmente autodidacta e um típico intelectual da classe trabalhadora do seu tempo. As prateleiras de livros do nosso apartamento atestavam a amplitude e profundidade dos interesses dos meus pais. O conhecimento era visto como um processo libertador e mais importante do que isso, eles estavam a adquirir conhecimentos que anteriormente estavam reservados às classes alta e média com educação, os outrora administradores do capitalismo.


Marx acreditava que atingir o socialismo só era possível nas sociedades mais desenvolvidas, na Europa, mais especificamente na Alemanha, onde a socialização da produção era mais desenvolvida e a visão bem como a organização dos produtores era mais avançada. Mas a revolução bolchevique de 1917 transformou completamente o debate; a Rússia, apesar de tudo, era uma sociedade subdesenvolvida composta principalmente por trabalhadores rurais ainda quase numa existência feudal, não sendo a mais fértil das situações para a criação de uma sociedade conduzida por trabalhadores com formação. O debate tem intensificado desde aí e à luz do número de países que tentaram construir economias socialistas, virtualmente todos eram subdesenvolvidos, parece que neste ponto, nós estamos mais distantes de ter essa visão socialista do séc. XIX.


Este não é um debate meramente académico; de facto pode-se dizer que a sobrevivência da nossa espécie depende da resolução deste assunto de uma vez por todas.


Mas os anos foram passando e cada vez mais os ‘empregados do estado’ ou políticos como normalmente são chamados, transformaram-se numa casta auto-perpetuadora que nos governam mais num género clerical de do que facilitando um processo participatório inclusivo. Estão a longa distância daqueles visionários do séc. XIX que se viam como herdeiros inevitáveis da riqueza que criavam.


Em vez de um aumento da participação na administração da sociedade – que é o verdadeiro significado da democracia, não o voto ‘per se’ – nós vemos que com a criação desta elite dirigente, as pessoas estão tão alienadas do funcionamento da sociedade como estavam antes de obterem o direito de voto, um inversão um pouco irónica não acham?


Este desenvolvimento explica em parte porque é que a classe política dominante gasta tanta energia em tentar encontrar formas de ‘envolver’ o eleitorado, apesar de serem todas falsas, pois eles perceberam que a ficção da democracia, através do voto, não é suficiente para manter a legitimidade e mais do que isso, a crença no ‘sistema’.


Mas independentemente disso, com uma casta de dirigentes políticos profissionais a tomarem todas as decisões, divorciados das reais necessidades e preocupações do cidadão, a ordem capitalista está, cada vez mais, em crise. De facto, pode-se dizer que a classe política dirigente juntou lenha para se queimar ao ‘profissionalizar’ o processo político.


Eles enfrentam agora uma tarefa impossível, literalmente a de tentar fazer a quadratura do círculo, pois como pode haver um envolvimento das pessoas quando todas as avenidas da participação real foram removidas? Por muito limitado que fosse ser membro de um partido (ou membro por afinidade, via sindicato), pelo menos dava às pessoas alguma voz. A filiação no Partido Trabalhista, por exemplo, reduziu-se a metade nos últimos cinco anos. Já não é uma organização política de ‘massas’ com representação ao nível das bases.


A filiação tanto em sindicatos como em partidos políticos de qualquer género caiu vertiginosamente, especialmente desde que o ‘Novo Trabalhista’ assumiu o poder, piorando ainda mais porque o maior empregador é agora o próprio estado e ainda mais gigantesco se tivermos em consideração os empregos nos serviços públicos que foram ‘adjudicados a terceiros’ ou privatizados.


Os que estão à ‘esquerda’ do Partido Trabalhista ainda acreditam que podem de alguma forma recuperar o processo político, mas sem um genuíno envolvimento das bases desde a raiz, nos círculos eleitorais por exemplo, tal desejo é uma fantasia, já que os mecanismos deixaram de existir. Pior ainda, aqueles à esquerda do Partido Trabalhista ainda funcionam na ilusão de que podem de alguma forma voltar o relógio atrás até aos dias ‘gloriosos’.


A resposta das ‘esquerdas’ a esta situação é lamentável, em primeiro lugar ainda nem reconheceu que aconteceu realmente e em segundo lugar não conseguiu reconhecer as limitações dos tradicionais partidos políticos da esquerda, todos sendo consequência ou produto de organizações da classe trabalhadora, principalmente dos sindicatos, que estiveram de qualquer forma principalmente envolvidos em assuntos económicos, de salários, de condições económicas, etc.


Para a grande maioria das pessoas que trabalham, os assuntos económicos já deixaram de ser um tema principal. A definição clássica de Marx de alienação ocupa agora o palco principal e mais uma vez sublinha o papel crucial da educação, ou antes da falta dela, pois está a decorrer um processo ainda mais insidioso nomeadamente a criação de dois grupos bem distintos dentro da classe dos produtores, os chamados ‘chavs’ [1] e as ‘chatterering classes’ [2], resultado de dois tipos de educação e meios socio-económicos totalmente diferentes (não propriamente um fenómeno novo mas expressado numa nova forma e reforçado pela criação da classe política profissional acima descrita).


Ambos os grupos são facilmente reconhecíveis pela forma como os mass media se dirigem a eles, especialmente a imprensa, com as ‘parangonas’ ou os tablóides dirigindo-se aos ‘chavs’ (ou pelo menos ao segmento da classe produtora de onde eles surgem) e os jornais de ‘qualidade’, aos ‘chatterers’.


Estes dois grupos são a expressão visível da transformação fundamental na forma como o capitalismo mantém o controlo, que aconteceu nas últimas duas ou três décadas, em grande medida pela expansão do sistema ‘educativo’ para incluir aqueles que não herdaram o seu ‘lugar’ na classe dominante, como costumava ser.


Entretanto, o resto é entretido através de um grande consumismo e um apelo aos mínimos denominadores comuns que consistem em apelos ao patriotismo, à xenofobia, e em histéricos títulos das ‘notícias’ acerca de crimes, ‘comportamento anti-social’, imigração, pedofilia, ou qualquer outra parangona que seja considerada ‘digna de nota’.


O ‘entretenimento’ para os ‘chavs’ consiste principalmente na criação de mundos de fantasia e escape da rotina diária de vidas que, para além do consumo, estão totalmente divorciadas de um real envolvimento no controlo sobre os acontecimentos que os afectam. E sentindo a natureza sedutora da cultura das ‘celebridades’, o estado foi lesto a embrenhar-se e a explorar esses desejos, e por isso vemos Blair na sua colaboradora confraternização com estas ‘estrelas’, em eventos altamente publicitados nos media, ou para ‘ajudar a acabar com a fome em África’ ou qualquer coisa assim.


O objectivo é claro; ao participar nestes eventos de ‘celebridades’ a elite política dominante espera estabelecer uma relação com as ‘massas’.


O que este processo revela é o grande fosso político entre os governantes e os governados, com milhões de pessoas privadas de qualquer tipo de representação política, um fosso que tem sido (convenientemente) preenchido pelos media estatais e corporativos numa ‘(não)santa aliança’ com a classe política dominante que, através de manhosos relatórios (e ‘fugas de informação’), informa efectivamente os mass media sobre o que devem focar.


Basta-nos olhar para a histérica cobertura do rapto da jovem rapariga em Portugal para termos uma ideia de como o processo funciona, por muito terrível que isso seja para a família da jovem rapariga. O seu tratamento pelos grandes meios de comunicação ocultou efectivamente qualquer outra cobertura noticiosa. E de facto, as ‘notícias’ podem ser vistas como uma sucessão deste tipo de acontecimentos, acontecimentos que obviamente tocam os corações das pessoas, no fundo este é um acontecimento terrível, mas será mais terrível do que os crimes de guerra diariamente praticados contra as crianças iraquianas, afegãs ou palestinianas?


O “sequestro” (BBC TV, 12/5/2007 ou “rapto”, BBC Radio 4, 15/5/2007 e ocasionalmente relatado como “captura”) dos três soldados de ocupação norte-americanos pela Alcaida [ou Al Qaeda] no ‘Triângulo da Morte’ é mais um exemplo dos dois pesos e duas medidas usados. O sequestro e obtenção de reféns pelas forças de ocupação de, literalmente, milhares de iraquianos nunca é mencionado, comparando com o tipo de cobertura saturante dedicada aos ‘nossos rapazes’.


Assim, os acontecimentos são cuidadosamente divididos em pequenos pedaços para serem digeridos ao estilo da comida rápida, por um público esfomeado não apenas de factos mas também de qualquer tipo de conhecimento sobre as políticas governamentais.


As ‘chattering classes’ entretanto produzem não apenas versões fortemente desinfectadas de uma realidade para consumo externo mas também ‘falam uns com os outros’ através dos seus porta-vozes mediáticos revelando e existência de duas realidades paralelas, ambas considerando os mesmos assuntos mas de formas completamente diferentes.


Parece-me importante reconhecer que aqueles que governam o nosso país têm vindo a fazê-lo nos últimos quinhentos anos numa cadeia de comando virtualmente ininterrupta, com as experiências a passarem de uma elite governante para a seguinte. Os berçários destas elites dominantes são as escolas, universidades, forças armadas, o sistema legal, clubes (provavelmente o componente mais importante) e o último ninho, os meios de comunicação, em especial a BBC que foi rápida a reconhecer o poder dos Novos Media para manipular a realidade.


Eles são, sem dúvida, uma das elites dominantes mais inteligentes, mais manhosas, e acima de tudo, mais autoconfiantes. A experiência obtida através das diferentes épocas, desde o seu início como comerciantes e banqueiros engordados pelo comércio de escravos, até aos dias de hoje, mostra a sua adaptabilidade e capacidade de prever os acontecimentos. Até agora.


Eu arrisco dizer que começando pelos primeiros anos de Thatcher (e continuando até ao desconhecido fim do Novo Partido Trabalhista), esta elite dominante foi fracturada pela chegada do exército de ineptos, imbecis dos media, deambuladores, ladrões, mentirosos e simples ajudantes cabeças ocas. Foi, no fundo, este grupinho que desmantelou pela própria mão o ‘consenso’ cuidadosamente construído que tem mantido os governados e os governantes firmemente no seu recanto.


Ao destruir a ilusão de uma democracia que tem, alegadamente claro está, um milhar de anos, o regime de Blair criou uma crise dentro da elite dominante. Incapaz de absorver as mudanças impostas pelo gangue de Blair, a estabelecida elite está a sofrer uma crise de confiança nos seus mestres políticos.


O exemplo mais óbvio tem sido a sua incapacidade de utilizar com eficácia a tecnologia dos computadores no sector dos serviços públicos. A relação tradicional entre os administradores e os seus técnicos foi rompida com a chegada das hordas de Blair, sob a forma de uma mão cheia de empresas de TI [Tecnologias de Informação], nem uma única provando ser adequada à tarefa, ou como diria Blair, ‘apta para o propósito’.


Isto pode parecer trivial, mas um dos grandes sucessos do estado britânico tem sido a sua capacidade de manter um suave funcionamento do estado nos bons e nos maus momentos. Mas eu temo que a sua burocracia altamente controlada dos serviços públicos, uma máquina bem oleada construída durante séculos, enfrente agora os devoradores de Blair, que foram deixados à solta para esvaziar o cofre público à vontade, sem que poupem alguma coisa útil ou de valor, que nem foram capazes de fazer funcionar como pretendido, nenhuma da sua ‘nova burocracia electrónica’. Mas se formos a ver, o que é que o governo de Blair sabe sobre a forma como funcionam as burocracias? Praticamente nada, excepto o que lhe dizem as sanguessugas das TI.


A importância desta mencionada falência na criação de um estado corporativo securitário por Blair deveria ser óbvia. Sem nenhumas verificações e balanços democráticos e uma visão geral por parte das pessoas, o estado continua a necessitar de funcionar eficientemente, os seus serviços públicos têm de fazer rolar a máquina estatal.


O golpe no PC [Grupo de Conselheiros] de Blair está descontrolado; o rei não tem mesmo roupa. Em vez disso ele criou uma sombra de descontentamento interna e externa e ela não desaparecerá com a coroação de Brown como seu sucessor.


Ao desligar as pessoas das eleições e depois desapontá-las com um par de truques vazios e extremamente caros e passes de magia, supostamente como um substituto daquilo que elas perderam – principalmente a sua liberdade, se ao menos o perceberam – o Projecto Blair enfrenta um verdadeiro dilema. Sem um consenso geral para balizar o seu alegre caminho para sabe-se lá onde, sem dúvida que aqueles que formulam as políticas esperam que o duro Brown lhes dê alguma lufada de ar fresco que lhes permita pensar sobre o que fazer a seguir, principalmente ganhar as próximas eleições.


Enquanto o ‘business as usual’ [‘negócio a correr bem’] possa ser mantido, a elite política dominante apenas se preocupa em preservar o seu poder, riqueza e influência pessoal, e nós podemos esperar pouca coisa dos nossos representantes ‘eleitos’ independentemente de como se auto-intitulam. Ao remover os últimos vestígios até de uma farsa de participação democrática, nós temos agora aquilo que poderia ser descrito como uma forma de capitalismo gangster, alimentando-se da cortesia dos cofres públicos na privatização do domínio público.


Num sentido muito real, o símbolo do estado sob a forma do Parlamento, não apenas perdeu toda a legitimidade, residindo em esplêndido isolamento numa construção do Gótico Vitoriano, mas tal como o governo, mascarado de algo que não é, entregou o poder que tinha sobre o funcionamento do estado aos vampiros de Blair, que estão na realidade a ‘extrair lucro’ dos recursos públicos sob a capa da ‘eficiência’ e da ‘reorganização’.


Mais cedo ou mais tarde as pessoas vão abrir os olhos ao que o ‘Blatcherismo’ [Blair + Thatcher] fez, a questão é, iremos ter uma voz e os meios para mudar o rumo?


Notas


1. Para mais sobre o termo ver en.wikipedia.org/wiki/Chav. Apesar de originalmente usado para identificar os jovens da classe trabalhadora, obcecados com o aspecto ou com a moda, eu tomei a liberdade e usei o termo para descrever o produto ‘mais baixo’ do nosso sistema educativo de dois níveis; aqueles que pela falta de recursos financeiros ou de enquadramento, não frequentaram ou muito dificilmente chegarão à universidade e vêem assim negados os dúbios benefícios que advêm da obtenção de uma ‘educação superior’. Diabolizados e explorados por uns cruéis mass media, criminalizados pelo estado de Blair, eles apresentam um extremo contraste com os ‘chatterers’.


2. A Wikipedia define, em parte, as ‘chattering classes’ da seguinte forma: “Chattering classes’ é um termo usado frequentemente pelos meios de comunicação e pelos comentadores políticos para se referirem a uma secção elite da classe média com elevado grau de educação, politicamente activa, com preocupações sociais, especialmente aqueles com ligações académicas, políticas, e nos meios de comunicação.”

Ambos são os pólos opostos da ‘Nova Grã-Bretanha’ de Blair. No meio fica o resto de nós, também sem voz, tal como os ‘chavs’.

 

 

Texto da autoria de William Bowles publicado a 15 de Maio em http://williambowles.info/ini/2007/0507/ini-0483.html . Tradução de Alexandre Leite.

Deir Yassin continua

10.05.07

 


A cidade de Um El Fahim no actual Israel, é a casa de 48 mil palestinianos cidadãos de Israel. A maioria são refugiados internos sem os mesmos direitos que os cidadãos judeus nem o direito a regressar à sua terra natal.


Passaram no passado mês cinquenta e nove anos, desde que militantes do Irgun Sionista e do Gangue de Stern assassinaram sistematicamente mais de 100 homens, mulheres e crianças em Deir Yassin. A aldeia palestiniana ficava fora da área que a ONU recomendava que fosse incluída num futuro Estado Judaico, e o massacre ocorreu algumas semanas antes do fim do Mandato Britânico, mas fez parte de um processo cuidadosamente planeado e orquestrado que viria a provocar a fuga de 70% da população nativa, abrindo caminho a um estado etnicamente judeu.

Deir Yassin foi apenas mais uma das 400 localidades palestinianas despovoadas e destruídas pelas forças judaicas em 1948 (ou pouco antes e depois). Eu visitei recentemente as ruínas de uma aldeia palestiniana chamada Kafrayn, actualmente em Israel, numa visita com os Zochrot, que se descrevem a eles mesmos como “um grupo de cidadãos de Israel a trabalhar para elevar a consciência sobre o Nakba [“catástrofe”], a catástrofe palestiniana de 1948.”

O nosso grupo reuniu-se em casa de Adnan, um refugiado de um outra aldeia chamada Lajjun, que agora vive em Um El Fahim, em Israel. Um homem bem apresentado, nos seus sessenta e tais, Adnam recebeu-nos na sua sala de estar quando lhe pedimos para nos contar a sua história. O seu filho trouxe morangos frescos e chocolates antes de se sentar para traduzir o que o seu pai relatava:

“Eu lembro-me de Lajjun como num sonho. Eu tinha apenas sete anos quando chegaram os homens com armas, mas ainda me lembro bem claramente de algumas coisas. Lembro-me da minha escola, e do nome do meu professor. Eu lembro-me que tínhamos um centro comunitário para os visitantes, e a aldeia estava excitada porque um embaixador inglês planeava fazer uma visita. Nós trabalhámos durante semanas na renovação dos grandes jardins. Lembro-me que a aldeia tinha uma grande fonte e um sofisticado sistema de água. Israel consegui convencer o mundo de que os palestinianos eram um povo primitivo e sem educação até à chegada dos sionistas, mas isso é propaganda. Nós até tínhamos desenvolvido alfaias agrícolas como máquinas para virar o milho. Nós tínhamos uma boa educação e tínhamos boas relações com os nossos vizinhos judeus que viviam num kibbutz a alguns quilómetros de distância.



Adnan, em sua casa, segura um mapa da sua aldeia Lajjun e fala sobre as suas memórias de casa e de 1948.


Depois vieram os soldados. Eu lembro-me de dispararem a partir de um monte, balas a passarem por cima da minha cabeça enquanto corríamos. Nós fugimos para uma localidade chamada Taybi, e não levámos nada connosco – não tínhamos tempo, e presumimos que iríamos voltar quando a guerra acabasse. Em Taybi tivemos de pedir emprestadas umas tendas para vivermos. De alguma forma seguimos para Um El Fahim com milhares de outros refugiados, e temos estado aqui desde essa altura. A nossa aldeia tinha 44 mil dununs de terra agrícola [4400 hectares] e eles ficaram com cada um deles. Nós somos cidadãos de Israel, mas nunca nos permitiram regressar à nossa terra e às nossas casas. Nós somos refugiados no nosso próprio estado.

Entre 1948 e 1966, os palestinianos em Israel viveram da forma que os palestinianos vivem agora na Cisjordânia e em Gaza. Nós éramos prisioneiros nas nossas casas em Um El Fahim, em constante recolher obrigatório, controlados nos checkpoints [postos de controlo de civis], etc. Apesar de algumas restrições terem sido levantadas, como não-judeus nós ainda vemos geralmente recusada mais de 93% da terra em Israel, detida pelo estado ou pela Fundação Nacional Judia. Isso inclui a minha terra, a minha aldeia. Eles cercaram-na com uma vedação e nem nos deixam ir rezar à mesquita, uma das únicas estruturas que ainda está em pé. A mesquita pertence agora ao kibutz mais próximo, por isso os habitantes desse kibutz podem lá ir quando lhes apetecer.

Como é que Israel se intitula de democracia quando eu não posso ir à minha terra simplesmente porque sou de uma etnia diferente dos meus antigos vizinhos judeus? Que género de democracia é esta onde os partidos políticos não podem desafiar a moldura sionista exclusivista, mas eles podem desafiar os direitos da população indígena de cá permanecer? O ministro israelita dos Assuntos Estratégicos, Avigdor Lieberman, veio da Rússia há uns anos atrás e agora está a falar em enviar os palestinianos embora, nós que já estamos cá há centenas, se não há milhares, de anos! O povo judeu conhece a catástrofe e o sofrimento. Eles procuram a justiça para as suas próprias vidas… porque não para a minha?

Quase todos os residente mais velhos de Um El Fahim são refugiados internos de 1948, como Adnan. Eles vivem como cidadãos de segunda classe, recebendo menos serviços do que os seus comparsas judeus. Israel gasta uma média de 4 935 shekels [perto de 900 euros] por ano por cada estudante judeu, comparando com 862 [perto de 157 euros] por cada árabe. Nas palavras do deputado parlamentar israelita Jamal Zahalka, “Israel é um estado democrático para os seus cidadãos judeus, e um estado judeu para os seus cidadãos árabes.”

 

Vários residentes idosos de Um El Fahim acompanharam-nos na nossa viagem a Kafrayn. Foi uma coisa estranha, circular num autocarro à procura de uma aldeia que já não existe. Antes de chegarmos a Kafrayn, um ancião palestiniano chamado Muneeb deu um salto e começou a esbracejar: “É aqui! É a minha aldeia!” Eu virei-me para olhar para vários montes cobertos por árvores. Como muitas outras, a aldeia de Muneeb (perto de Kafrayn) tinha sido esvaziada de palestinianos e depois tinham sido plantados pinheiros de Jerusalém, de crescimento rápido, por sionistas que se gabariam mais tarde de “fazer florir o deserto”.


Aldeia de Kafrayn, vedada e designada como terreno militar e de pastagem. A maioria das terras dos refugiados palestinianos permanece vaga mas controlada pelos habitantes de kibutzes ou pela Fundação Nacional Judia, banida a palestinianos.

 

Muneeb apontou excitadamente em direcção a uma zona do monte: “Era por ali que eu costumava ir a pé para a escola! A ali era onde íamos buscar água! E ali – ali era a minha casa…”

De repente a voz de Muneeb tremeu e ele olhou para baixo, embaraçado. “Eu não devia ter vindo aqui hoje”, confessou ele, depois de se recompor. “É muito emocionante. Vocês estavam aqui há milhares de anos e sentem falta da vossa terra”, disse ele aos judeus do grupo. “Eu estava aqui há cinquenta anos e sinto falta da minha terra.”

O que mais me impressionou na nossa visita foi como tudo estava tão vazio. Ninguém vivia nas aldeias de Muneeb e Adnan, ou perto delas. As suas aldeias tinham sido transformadas em florestas, bases militares e pastos, controladas por habitantes de kibutzes por vezes a quilómetros de distância. Um israelita do grupo explicou-me que Israel normalmente desenvolve grandes projectos que ocupam muita área para manter o controlo sobre áreas vazias onde não quer que se instalem palestinianos. Quando nós chegámos a Kafrayn, encontrámos várias zonas vazias vedadas. Uma tinha um sinal “Bem-vindos à base militar 105”. Noutro local dizia “Perigo – Zona de Tiro – Entrada Proibida!”. Um terceiro sinal continha “Terra de pasto para gado”.

“Então eles deixam as vacas viverem aqui mas não os árabes?” Perguntei eu ao meu novo amigo.

“As vacas não têm aspirações nacionalistas” sorriu ele. “Para além disso, vês algumas vacas por aqui?” Ele tinha razão – não se viam nenhumas vacas, nem soldados já agora.


Um sinal a dizer “Bem-vindos à base militar 105” perto das ruínas da aldeia de Kafrayn.


Um sinal a dizer “Perigo – Zona de Tiro – Entrada Proibida!” perto das ruínas de Kafrayn. Não se vêem soldados mas os aldeões estão proibidos de regressar.

Um engano comum sobre os refugiados palestinianos é pensar que a implementação do direito de regresso iria criar uma nova crise de refugiados obrigando à deslocação de muitos israelitas. De facto, de acordo com o Dr. Salman Abu Sitta, um antigo membro do Conselho Nacional Palestiniano e investigador sobre assuntos dos refugiados, “78% [dos judeus israelitas] vivem em 14% de Israel. Os restantes 22% vivem em 86% da área de Israel, que é terra palestiniana. A maioria deles vive numa dúzia de localidades palestinianas. Uma pequena minoria vive nos kibutzes… Por isso, apenas 200 mil judeus estão a explorar 17 325 km2, que são a terra e a herança de 5 248 180 refugiados, encurralados em acampamentos e sendo-lhes negado o direito de regressar a casa” (ver o altamente recomendável Mapa do Nakba, do Dr. Abu Sitta, disponível em http://al-awdacal.org/shop.html).

Não se trata de um problema de espaço, é um problema de demografia. Permitir que os refugiados palestinianos regressassem iria ameaçar as características étnicas de Israel. Em vez de ser o estado dos judeus, poderia ter-se tornado um estado de pessoas que lá vivem, algumas das quais judias, outras não. Mas até que isso aconteça, o máximo a que as pessoas como Muneeb e Adnan podem aspirar é uma visita ocasional com alguns activistas judeus de longe a longe. Alguns dos sobreviventes da expulsão de Kafrayn que nos acompanharam na visita não tinham lá voltado desde 1948 – quase 60 anos. Eles andaram por lá, como se sonhassem, assinalando onde era o antigo cemitério e a escola. Um sobrevivente, Abu Ghasi, relembrou esta história ao grupo:

“Todos tínhamos ouvido falar do massacre de Deir Yassin uns dias antes, por isso quando as forças sionistas chegaram e começaram a disparar, fugimos todos. Aqueles de nós que sobreviveram esconderam-se num abrigo numa aldeia próxima, e passado pouco tempo ouvimos o estrondo que nos pareceu serem as nossas casas a explodir. Depois das forças judias terem ido, nós regressámos e encontrámos a nossa aldeia completamente destruída. Era óbvio que não tínhamos alternativa a não ser ir para outro lado qualquer, e eventualmente nós instalámo-nos em Um El Fahim."

Uma senhora de idade, do kibutz mais próximo, falou com os sobreviventes e todos concordaram que as suas comunidades se davam bem antes da expulsão. Eles recordaram um autocarro escolar que tinham partilhado, e a mulher confirmou a história das forças sionistas terem arrasado e bombardeado Kafrayn. A viagem acabou com um jantar entre os sobreviventes, habitantes dos kibutzes e o resto do grupo, perto da antiga fonte de Kafrayn, a principal fonte de água.

Alguém tinha pintado na fonte “Morte aos Árabes”, em hebreu, antes de chegarmos, mas nós não deixámos que isso nos impedisse de aproveitarmos a beleza natural à medida que várias pessoas foram falando. Uma mulher judia que tinha imigrado do Canadá para Israel há 27 anos atrás disse que precisou de chegar aos 20 para perceber realmente a verdade sobre o passado e o presente de Israel. Um homem perguntou à mulher habitante do kibutz se ela achava que os seus vizinhos palestinianos deveriam poder regressar, mas ela mostrou-se reticente a responder directamente, dizendo que era uma coisa complicada. Um homem israelita respondeu-lhe com frustração, dizendo, “Nós estamos aqui com 100 mil dunums [mil hectares] de terra vaga. Nós temos em Israel muitos refugiados internos desta terra que permanece vazia. Porque não dar às famílias um dos milhares de dunums para que eles possam voltar para as suas casas?”



Abu Ghasi aponta para o local onde era o cemitério de Kafrayn.

Um sobrevivente de Kafrayn também se dirigiu à habitante do kibutz: “Veja, todos nós queremos paz. É muito fácil de dizer, mas a paz requer que se faça um esforço. Eu perdi 60 anos da minha terra. Como é que pode querer que eu viva em paz com os judeus se eles me recusam o regresso à minha terra e os meus direitos?” Outro refugiado manifestou os seus sentimentos: “A paz não é um tipo de pessoa desfrutar da terra e outros proibidos. Se querem paz, partilhemos tudo. Vivamos juntos.”

Os refugiados palestinianos da nossa visita são os sortudos. Ao contrário dos dois terços de palestinianos que estão na diáspora, Adnan, Muneeb, e Abu Ghasi ainda estão aqui, na Palestina histórica. E apesar de não serem tão privilegiados como os judeus, eles não estão pelo menos a viver sobre ocupação como os seus comparsas refugiados em Gaza e na Cisjordânia. Este ano, eu passei o dia de Deir Yassin em Izbat At Tabib, uma aldeia com 226 refugiados palestinianos de 1948, cujas famílias se reinstalaram na Cisjordânia e têm enfrentado repetidas tentativas de serem expulsos novamente por parte de Israel. Quase toda a aldeia tem ordem de demolição para abrir caminho a estradas e ao Muro.

 

Para além dos massacres e expulsões do passado nunca terem sido oficialmente reconhecidos, a Nakba continua ainda hoje, de uma forma ou de outra, para todos os refugiados palestinianos, quer em Israel, na Cisjordânia, em Gaza ou na diáspora. Isto não é uma velha história – isto é agora, isto é urgente. A Nakba continua. Deir Yassin continua.

 

 


Texto da autoria de Anna Baltzer publicado pela Electronic Intifada a 2 de Maio de 2007. Tradução de Alexandre Leite. Outros textos e fotografias de Anna Baltzer podem ser consultados na sua página pessoal (http://www.annainthemiddleeast.com/) .


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