Marrocos, Polisário continua conversações sobre Sara Ocidental
Espera-se que a segunda ronda de conversações cara-a-cara se foque nas medidas de estabelecimento de confiança
Marrocos e o movimento independentista Polisário irão encontrar-se no próximo sábado perto de Nova Iorque para um segundo dia de conversações, patrocinadas pelas Nações Unidas, sobre a sua disputa já com 32 anos, sobre o Sara Ocidental.
Os dois lados iniciaram negociações na sexta-feira em Manhasseet, a leste da cidade de Nova Iorque, dois meses depois de terem retomado as conversações sobre o território.
Irá a controvérsia terminar?
Os dois lados tiveram o seu primeiro encontro cara-a-cara em sete anos em Junho, mas o encontro não conseguiu um avanço nos seus antigos desacordos e terminou com ambos os lados a pedirem ao outro para se empenhar.
As conversas visam o estatuto do território norte-africano. A Polisário pretende um referendo que ofereça total autonomia ou independência, enquanto Rabat até agora só esteve disposta a oferecer uma autonomia limitada sob soberania marroquina.
A segunda ronda de negociações, tal como a primeira, tem como anfitrião Peter Van Walsumlo, enviado de Ban Ki-moon, das Nações Unidas, para o Sara Ocidental.
"Eu espero que mantenham a mesma boa atmosfera que caracterizou a primeira ronda. No entanto a atmosfera não é tudo," disse Van Walsum às duas partes no início das conversações na sexta-feira, de acordo com um porta-voz.
"O Conselho de Segurança espera que tenhamos uma conduta de boa fé e negociações produtivas", acrescentou.
As conversações no Sábado seriam para se focarem medidas de estabelecimento de confiança, de acordo com uma fonte oficial da Polisário em Algiers.
O Ministro do Interior de Marrocos, Chakib Benmoussa, que liderou a delegação de Rabat, disse depois da ronda de Junho, que a Polisário ainda tinha de fazer concessões para responder a uma proposta de autonomia que Rabat fez em Abril.
Um outro membro da delegação marroquina, Khelli Hanna Ould Errachid, presidente do Conselho Consultivo Real para os Assuntos do Sara, apelou à Polisário que faça maiores concessões para ajudar a ultrapassar o impasse.
"O que nós necessitamos é de mais concessões, de paciência, diálogo e renúncia de dogmatismos", disse Errachid. "Marrocos desistiu da integração total (do Sara Ocidental) e nós esperamos que a outra parte desista da independência total".
No início deste mês, o rei marroquino Mohammed VI alertou sobre a "balcanização" do continente africano devido a movimentos separatistas.
Mahfoud Ali Beiba, que dirigiu a delegação Polisário, reafirmou que o objectivo da organização é conseguir a auto-determinação total para o Sara Ocidental e disse que as negociações iram necessitar de "perseverança, paciência e criatividade."
Ele fez um apelo a que os "nossos irmãos marroquinos enfrentem a História em conjunto connosco, aproveitando esta histórica janela de oportunidade que se abriu."
A porta-voz da ONU, Michele Montas, descreveu a primeira ronda de Junho como "muito difícil" e "o início de um longo processo."
As conversações de Junho foram marcadas depois de, em Abril, o Conselho de Segurança da ONU ter apelado a Marrocos e à Polisário para iniciarem conversações directas patrocinadas pela ONU.
Rabat anexou o território do noroeste africano, na costa atlântica, depois do anterior dono colonial, a Espanha, e da vizinha Mauritânia, terem saído nos anos 1970, conduzindo a uma longa guerra de 16 anos com a Frente Polisário.
Os dois lados acordaram um cessar-fogo em 1991, mas Rabat rejeitou sempre um prometido referendo de auto-determinação e desde 2002 tem insistido que tal votação não é necessária.
Em Abril, Marrocos propôs um referendo sobre a autonomia que permitisse que o Sara Ocidental tivesse controlo sobre os seus assuntos, com instituições legislativas, executivas e judiciais, mas debaixo da soberania marroquina.
Rabat também pretende que a Argélia, o principal apoiante da Polisário, seja envolvida em quaisquer acordos. Estiveram presentes delegados da Argélia e da Mauritânia nas conversações de sexta-feira.
Texto publicado em Midle East Online a 11 de Agosto de 2007. Traduzido por Alexandre Leite para a Tlaxcala.